ACTUALIZAÇÃO 23 de abril de 2020

Recomendações da SPMR decorrentes da pandemia Covid-19

COMUNICADO DA SPMR

A SPMR emitiu um comunicado no dia 16 de março de 2020 (atualizado no dia 3 de abril), com um conjunto de recomendações dirigidas aos Centros Nacionais de PMA no contexto da Pandemia por COVID-19. Na base dessas recomendações estiveram duas preocupações. Por um lado, o desconhecimento do impacto da infeção pelo SARS-CoV-2 sobre os embriões e gâmetas, bem como sobre a grávida e o feto. Por outro, e não menos importante, a necessidade de cumprirmos o distanciamento social, solicitado pelas entidades competentes a todos os cidadãos, com o objetivo de diminuir o número de novos casos e, por consequência, evitar que o Sistema Nacional de Saúde pudesse entrar em colapso.

Passadas 5 semanas sobre esse primeiro comunicado estamos em condições de afirmar com alguma segurança que:

  • A pandemia em Portugal teve, até ao momento, um curso menos grave do que noutros países europeus, nomeadamente em Espanha e Itália. Essa evolução mais favorável tem sido atribuída, em grande parte, ao cumprimento das regras de distanciamento social. Dessa forma, o Sistema Nacional de Saúde, apesar de um aumento significativo do número de doentes internados, tem sido capaz de dar resposta aos casos mais graves, sem sinais de risco de rotura no seu atendimento.

  • O SARS-CoV-2, ao contrário de outros vírus, necessita da presença de um receptor específico para poder entrar nas células. Trata-se do recetor da enzima de conversão da angiotensina 2 (ACE2), com uma forte expressão no epitélio alveolar e no endotélio arterial e venoso. No entanto, este recetor não foi identificado nos espermatozoides ou nos ovócitos. Sendo assim, parece muito improvável que o vírus seja capaz de infetar os gâmetas em pacientes com COVID-19, ou de contaminar estas células em laboratórios de PMA. O nível de conhecimento atual relativamente à expressão do recetor ACE2 em embriões humanos é ainda escasso, assim como são ainda preliminares os resultados que avaliam a frequência e o impacto de uma possível identificação do vírus nos meios de cultura ou nos sistemas de criopreservação. No entanto, atendendo ao rigor das normas de atuação e vigilância, já em vigor, nos laboratórios de PMA relativamente a outros agentes infecciosos, é de prever que a contaminação laboratorial pelo SARS-Cov-2 seja muito improvável. 

  • Ao contrário do que acontece com outras infeções virais, nomeadamente pelo vírus da “gripe sazonal”, as grávidas não parecem ser mais suscetíveis à infeção COVID-19 do que a restante população. No entanto, atendendo à imunossupressão fisiológica da gravidez, é de considerar que possam merecer um cuidado especial. Até à presente data, apenas foi reportado um caso de morte materna e fetal, às 30 semanas de gestação. No entanto, vários estudos têm apontado para um ligeiro aumento do risco de parto pré-termo em grávidas infetadas. Todavia, na maior série publicada até à data sobre este tópico, Lian Chen analisou a evolução da gestação de 118 grávidas infetadas pelo SARS-CoV-2 que passaram pelo internamento num hospital de Wuhan, entre dezembro de 2019 e março de 2020. Destas, 111 (93%) tiveram apenas sintomas ligeiros, 68 (58%) tiveram o parto durante esse período de tempo, 14 (21%) dos quais foram pré-termo. Importa referir que destes 14 partos pré-termo, 8 foram iatrogénicos (motivados pela condição de saúde materna), pelo que o parto pré-termo ocorreu espontaneamente em apenas em 6 casos (9%). A taxa de abortamento foi de 8% e não se registaram casos de infeção fetal ou mortalidade neonatal. Estes dados apontam para uma evolução relativamente favorável da gravidez na COVID-19.

  • A transmissão vertical, embora muito pouco provável, parece não poder ser totalmente excluída, uma vez que em duas situações foi possível identificar anticorpos IgM anti-SARS-CoV-2 (que não atravessam a placenta), no soro de dois recém-nascidos imediatamente após o parto. No entanto, a experiência generalizada, incluindo a portuguesa, é a de que os recém-nascidos de grávidas infetadas têm um bom prognóstico e a sua condição de saúde não difere grandemente dos nascidos de grávidas não infetadas.

 

Com base nestes dados, a SPMR recomenda que:

  1. Uma vez revogado o estado de emergência nacional, decretado a 18 de março de 2020, os Centros de PMA possam retomar, de forma progressiva, a sua atividade clínica, incluindo os tratamentos de PMA. Os Centros de PMA que estejam integrados em unidades hospitalares destinadas ao combate à pandemia por COVID-19, deverão estabelecer, junto das respetivas administrações, o seu próprio plano e calendarização da retoma da atividade em PMA.

  2. Cada Centro estabeleça um plano de contingência, que possa ser rigorosamente aplicado em todos os momentos da sua atividade e não apenas durantes as consultas ou tratamentos, de forma a reduzir o risco de exposição da sua equipa de profissionais e dos seus pacientes ao SARS-CoV-2. Sugere-se igualmente que um elemento da equipa fique responsável pela consulta regular das normas e orientações publicadas pela Direção Geral de Saúde (https://covid19.min-saude.pt/), nomeadamente as que digam respeito aos profissionais de saúde, às instituições de atendimento ao público e à utilização dos equipamentos de proteção individual.  

  3. Caberá a cada Centro decidir pela realização ou não de transferências embrionárias (a fresco ou de embriões criopreservados). No entanto, a SPMR recomenda que essa decisão seja discutida com os respetivos beneficiários e que, no caso de esta se concretizar, seja anexado ao consentimento informado do CNPMA, um documento assinado por ambas as partes com informação atualizada sobre o impacto da infeção pelo SARS-Cov-2 na gravidez e no feto. A recomendação é igualmente aconselhada nos casos de tratamentos de indução da ovulação e de inseminação intra-uterina.

Por se tratar de um novo vírus, cujo conhecimento dos seus aspetos fisiopatológicos é ainda escasso, a SPMR promete manter-se atenta a todos os dados que permitam consolidar, ou alterar, as atuais recomendações.

 

A Direção da SPMR.

 

BIBLIOGRAFIA:

  1. Direção Geral da Saúde (https://covid19.min-saude.pt/).
  2. RCOG. Coronavirus (COVID-19) Infection in Pregnancy. Information for healthcare professionals Version 8: Published Friday 17 April 2020.
  3. ASEBIR. Recomendaciones para la seguridade y reducción de riesgos ante la infección por coronavírus (SARS-CoV-2) en las unidades de reproduccióin assistida. 20/04/2020.
  4. Liang Chen et al. Clinical Characteristics of Pregnant Women with Covid-19 in Wuhan, China. April 17, 2020, N Engl J Med.
  5. La Marca A, Niederberger C, Pellicer A, Nelson SM. COVID-19: Lessons from the Italian reproductive medical experience. Fertil Steril. In press. 
  • Data
    23 de abril de 2020

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